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Excelentíssimos Doutores do Abismo Nacional

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Por Fredi Jon


No país onde a honestidade virou exceção e a desfaçatez virou norma, é impossível não se perguntar: por que ainda chamamos de Excelentíssimo Senhor Doutor aquele sujeito que mal consegue articular uma frase sem tropeçar no próprio ego — ou em alguma denúncia de corrupção?

O protocolo manda, a liturgia exige. Mas o cidadão já não engole.

Sim, excelentíssimos. Excelentes no cinismo, talvez. Na arte da dissimulação, do discurso ensaiado no espelho da vaidade. Chamá-los de "doutores" é insultar quem dedicou anos a uma pesquisa séria, quem realmente estudou para contribuir com algo além da própria conta bancária.

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Quantos desses senhores, vestidos de gravata e imunidade, tratam a política como um clube de cavalheiros onde o interesse público é só um detalhe incômodo? “Doutor” é o que eles colocam antes do nome, enquanto assinam contratos duvidosos. “Excelentíssimo” é o que recebem de funcionários bajuladores, enquanto o povo assiste de pé à festa da elite encastelada em Brasília ou nos palácios estaduais, como se fossem monarcas reencarnados de uma monarquia que nunca tivemos.

Eles, que tratam o cargo como uma herança divina. Nós, que os sustentamos com os olhos cansados e as esperanças mutiladas.


De excelência mesmo, o que há é a habilidade em discursar com voz pausada enquanto desviam com mãos ágeis. São doutores, sim — em retórica vazia, em esquemas oblíquos, em narrativas que soam doces aos ouvidos de quem ainda acredita. E são muitos os que acreditam, porque a mentira quando bem vestida passa por verdade.

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Talvez o erro seja nosso, por manter a reverência. Por continuar aplaudindo títulos que já não representam mérito algum, apenas vaidade.

Doutores? Excelentíssimos? A maioria não passaria num vestibular de ética. Não resistiria a uma prova oral de moralidade. E, se fossem avaliados por resultados — como qualquer operário brasileiro —, estariam desempregados há anos.

Mas estão lá. Sentados em suas cadeiras almofadadas, assinando decretos como quem carimba a própria impunidade.

O Brasil não precisa mais de Excelências. Precisa de gente decente.E se vier sem título, melhor ainda.

 
 
 

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