Serenata: O Som Que Desperta o Que as Redes Adormecem
- fredijon
- 20 de jul.
- 2 min de leitura

Por Fredi Jon
O Dia do Amigo chegou. E talvez nunca tenha sido tão necessário refletir sobre o que, de fato, é amizade. Vivemos tempos estranhos — tempos em que fabricamos afetos, onde pessoas se tornaram avatares, onde o toque foi substituído pelo “curtir” e o abraço virou um emoji animado. Criamos versões digitais de tudo: de produtos, de experiências e, agora, até de vínculos humanos. Surgem os chamados “amigos reborn” — relações artificiais, moldadas para parecerem verdadeiras, mas incapazes de carregar o peso do silêncio, da ausência ou da dor do outro. Relações que simulam presença, mas são, na essência, apenas presenças ilustradas.


O futuro parece, cada vez mais, caminhar para vínculos líquidos, efêmeros, rápidos. Laços que se constroem na velocidade de um clique e se desfazem no mesmo ritmo. Tudo é “fast”: fast food, fast love, fast friends. E, com isso, vamos nos acostumando à ideia de que estar junto é estar online, que conversar é digitar, que celebrar a vida é postar uma foto bonita e esperar que ela gere alguma validação digital.
Mas o que se perde nesse processo? O que estamos abrindo mão, silenciosamente, sem perceber? O olhar. O cheiro. O riso fora de hora. A lágrima que não se explica. O abraço apertado. O toque no ombro que diz: "Eu tô aqui". Tudo isso, que é invisível para as câmeras, mas essencial para a alma.

É durante as serenatas que essa realidade se escancara de forma comovente. Quando chegamos, com nossos instrumentos e vozes, deparamos com olhares que se enchem de água, mãos que tremem, corações que se apertam — não só pela surpresa da homenagem, mas pela constatação de que faz muito tempo que não se sentem verdadeiramente vistos, lembrados, tocados. A carência de afeto real é quase palpável. E talvez por isso, falar sobre isso se torna não só necessário, mas urgente.
É urgente compreender que nenhuma inteligência artificial, nenhum algoritmo, nenhuma rede social é capaz de substituir a complexidade e a beleza das relações humanas verdadeiras. Porque a amizade, diferente de uma conexão digital, é feita de imperfeições, de desencontros, de perdão, de espera, de tempo. A amizade não é linear, não é programável, não é vendável. Ela exige presença real, exige escuta, exige disponibilidade — algo raro em um mundo que nos ensina a estar ocupados demais para olhar nos olhos.



E quando tudo falha — quando o wi-fi cai, quando as redes somem, quando os algoritmos deixam de entregar —, é aí que a vida real nos pergunta: quem permanece? Quem atravessa o silêncio? Quem toca sua porta, te olha nos olhos, te oferece um café e diz: "Senta, me conta, eu tô com você"?
O futuro das relações humanas depende do quanto estamos dispostos a não terceirizar o afeto. Depende do quanto entendemos que um amigo não é alguém que te envia um sticker fofo, mas alguém que te envia tempo, escuta e presença. Que a serenata, esse gesto quase ancestral, nos sirva como lembrança viva de que o amor, a amizade e o cuidado não são notificações. São encontros. São presenças que atravessam o tempo, o espaço e a vida.
Que nunca nos tornemos apenas perfis. Que nunca aceitemos viver como “amigos reborn”, embalados, bonitos e vazios. Que sejamos sempre presença viva no palco invisível da vida.


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